Desaparecido há 12 anos, influente biólogo
paulista Afonso Constantino Coralov teria vagado pelo interior da Bahia durante
muito tempo. Ainda não se sabe a causa exata da morte
A polícia de Canudos acredita que finalmente
encontrou um influente biólogo paulista que estava desaparecido há 12 anos.
Descendente de russos, Afonso Constantino Coralov, 56 anos, viveu há pelo menos
três como andarilho na cidade do sertão da Bahia. Só agora, após a sua morte na
última segunda-feira, antevéspera de Natal, o delegado titular de Euclides da
Cunha, Paulo Jason — que responde também por Canudos — está certo de que se
trata do biólogo.
“Resta apenas fazer a identificação das
digitais. Mas tudo indicar ser ele”, afirmou. Coralov, que morava em um sítio em Mogi das Cruzes quando
desapareceu, foi diretor da Sociedade Paulista de Zoológicos. A partir de
janeiro de 2002, seu nome e foto passaram a constar no cadastro da Polícia
Civil paulista como desaparecido.
À época, o caso chegou a ser tratado como
sequestro. Coralov teria vagado pelo interior da Bahia durante muito tempo. Há
dois anos e oito meses, encontrou abrigo no prédio do Memorial Antônio
Conselheiro, em Canudos. Depois, uma moradora da rua Belo Monte, a comerciante
Izaltina Vera Cruz, 56, permitiu que ele fosse morar em uma casa de sua
propriedade. Foi uma informação de Izaltina que fez a polícia descobrir a
história que estava por trás daquele andarilho.
“Um dia ela foi servir um cuscuz para ele,
que perguntou se ela trazia seu bolo de aniversário. Ela então anotou a data,
que nos ajudou a chegar até ele”, contou o delegado, que imprimiu a foto que
está no cadastro da polícia e levou até a comunidade.
“Todos confirmaram que se trata dele”, disse
o delegado. Chamava atenção dos moradores da rua Belo Monte o sujeito sem-teto
que gostava de ler Jorge Amado, William Shakespeare e Mario Vargas Llosa — este
último autor de A Guerra do Fim do Mundo, sobre a batalha de Canudos.
“Educadíssimo, uma pessoa distinta. Nunca pareceu um mendigo. Era um
andarilho”, contou Izaltina, a Tininha, que lhe deu abrigo.
Ela afirma que, além da data de nascimento, o
biólogo lhe fez outras confidências. “Disse que era diretor de uma instituição
importante e que uma decepção fez ele fugir”. Até o momento, nenhum parente do
biólogo procurou a polícia ou o IML de Euclides da Cunha, onde está seu corpo.
O CORREIO localizou um cunhado de Coralov,
que viu a notícia no site O Diário de Mogi, único a divulgar o caso até agora.
“Quase tenho um enfarte. O problema é que os únicos vivos da família sou eu e
minha filha. Não temos condições de ir à Canudos”, disse Olímpio Dimitreva, 59.
Em Canudos, Coralov se apresentava como Tarso
Bandeira, segundo a polícia nome do seu avô. Ainda não se sabe a causa exata da
morte. Acredita-se que Coralov morreu pelo abuso de álcool. Passou a beber este
ano e foi encontrado morto após uma bebedeira.
*Do Jornal Correio 24 Horas.