O projeto será presidido pelo deputado
distrital Wellington Luiz (PMDB), mas foi assinado pelos 24 parlamentares da
Casa
A Câmara Legislativa planeja criar, até o
próximo dia 20, uma frente parlamentar em apoio às famílias de pessoas
desaparecidas. . O objetivo da frente é cobrar mais assistência governamental
às famílias dos desaparecidos, além da reestruturação do Cadastro Nacional de
Pessoas Desaparecidas e da obrigatoriedade do registro da ocorrência neste
banco de dados.
Segundo Wellington Luiz, sem receber o
auxílio necessário por parte da polícia e do Estado, muitas famílias o procuram
na esperança de reencontrar seus entes queridos. “O ideal é que todos os
desaparecidos sejam encontrados ou que facilitemos ao máximo essa busca, por
meio de um acesso mais amplo à informação”, comenta ele.
De acordo com o distrital, uma das famílias
empenhadas na constituição da frente parlamentar é a do jovem Artur Paschoali,
desaparecido no Peru, em 2012, aos 20 anos. Após passar por mais de 182 cidades
peruanas e percorrer montanhas e vales da região atrás do filho, o
administrador Wanderlan Viera e a arquiteta Susana Pachoali continuam as buscas
até hoje, mas com recursos próprios.
Assim como Artur, todos os anos milhares de
pessoas desaparecem pelo mundo afora. O sumiço se dá por diversos motivos, entre
eles, em casos extremos, conflitos
armados, desastres naturais, migrações e atentados. No Distrito Federal,
segundo a Secretaria de Segurança Pública, são registrados anualmente cerca de
2,5 mil casos de desaparecimento. Acontece que cada pessoa que vai embora deixa
para trás inúmeras outras, que sofrem
com a angústia de não saber o que aconteceu.
1,1 MIL
SUMIRAM
Os últimos dados da Secretaria de Segurança
datam de 2013. De janeiro a abril daquele ano havia 1,1 mil desaparecidos no
DF, dos quais apenas 383, ou 33%, foram encontrados em um curto período de
tempo. Do total, 647 eram homens (56%) e 504 mulheres (44%).
Na ocasião, havia mais homens do que mulheres
com o paradeiro desconhecido. A faixa etária com maior índice de desaparecidos
era 30 a 49 anos entre os homens e 18 a 29 anos entre as mulheres. Já a região
administrativa com maior número de sumidos era
Ceilândia.
ENTIDADES
PRESTAM APOIO
Em 2012, a média mensal de pessoas
desaparecidas foi de 251, número que subiu para 287 no primeiro quadrimestre de
2013. Segundo a presidente da Associação
Desaparecidos do Brasil, Amanda Bolkede, após o boletim de ocorrência, a
família deve se cadastrar nas entidades
de apoio, como a própria Associação Desaparecidos do Brasil e o Cadastro
Nacional de Pessoas Desaparecidas. “Orientamos os familiares, fazemos um cartaz
e soltamos alertas para toda a rede de voluntários e redes sociais”,
explica.
De acordo com ela, quando o motivo do sumiço
não é grave, a pessoa normalmente é localizada ou retorna espontaneamente para
casa. “Porém, quando há outras situações envolvidas, como sequestro ou tráfico de pessoas, a
localização nem sempre acontece. A
estimativa do governo é de que, em cada
200 mil pessoas desaparecidas todos os
anos, 40 mil sejam crianças. Dessas, de 10% a 15% retornam”, diz.
INCERTEZAS
ATORMENTAM
A secretária Ivonete Pereira de Lima, 53
anos, não vê o irmão há mais de 20 anos. Nilo Pereira de Lima morava no Rio de
Janeiro, como parte da família, até que um dia “simplesmente sumiu”. “Minha
filha o conheceu quando era criança. Minha mãe faleceu em 2006 sem
reencontrá-lo. Ele, se estiver vivo, não sabe que ela já se foi”, comenta.
Segundo ela, a polícia abriu investigação e
fez buscas na época, mas nunca respondeu as perguntas: como? Onde? Por quê?
“Procuramos na internet, mas nunca
encontramos nenhum sinal. Espero poder revê-lo”, diz.
A secretária Márcia Pereira, 54 anos, procura
a mãe biológica. Adulta, ela descobriu que era adotada e, desde então, busca
conhecer suas origens e os motivos que levaram sua mãe a optar por tal escolha.
“Fiquei sabendo quando eu tinha 32 anos, após o falecimento do meu pai de
criação. Tenho informações de que minha mãe biológica morou em Brasília, mas
não sei se continua aqui e, sequer, se está viva. Olhar para trás e não saber
de onde vim dá um vazio muito grande”, lamenta.
A BUSCA
CONTINUA
Em agosto último, o JBr. mostrou a história
de Adriana França, 24 anos, desaparecida desde outubro de 2013. Sua mãe, a
empresária Maria Ivoneide, 48 anos, conhece bem a dor causada pela incerteza
constante. Adriana morava em Santa Maria e, num dia qualquer, foi a pé à parada
onde costumava pegar a condução para o trabalho. “Ela foi para o ponto de
ônibus às 8h30 e encontrou uma vizinha. Essa foi a última vez que foi vista”,
conta Ivoneide.
A jovem, recém-separada e com um filho, hoje
com oito anos, não morava na casa dos pais, mas ia lá todos os dias. Para a
mãe, o pior é a incerteza. “Eu nunca vou esquecer minha filha. Preciso de uma
resposta, qualquer que seja”, conclui. O caso ainda é investigado em sigilo
pela 33ª DP (Santa Maria).
* Do Jornal de Brasília.