Psicólogo alerta para desarranjos na família
que motivam jovens a fugir de casa
Aparecida Andrade
Da editoria de Cidades
Na última sexta-feira (27), as mães Thaíse
Soares da Silva, 30 anos, e Sonilda Rosa Rodrigues, 40 anos, denunciaram o
desaparecimento de suas filhas. As estudantes Thainnara Soares Almeida, de 13
anos, e Brenda Rosa Guerra Almeida, também de 13 anos, estavam desaparecidas
desde a última quarta-feira (25). As garotas retornaram para casa, quase uma
semana depois, no início desta semana.
As mães informaram que as meninas estavam na
casa de “amigos”, em Senador Canedo. Não souberam explicar quais foram os
motivos que levaram as garotas saírem de casa sem dar notícia para a família
durante cinco dias. Shouzo Abe, psicólogo clínico e perito criminal, observa
que é preciso avaliar o que está acontecendo dentro das famílias para que os
adolescentes queiram sair de casa sem avisar.
“Muitos jovens são influenciados, sim, a
cometerem atos que vão contra a sua própria segurança. Temos vários motivos.
Mas, geralmente para esse adolescente o lar representa um lugar hostil, onde
ele não se sente seguro e muitas vezes ele foge. Às vezes, ele até tem um lar
aparentemente seguro, contudo, lá fora ele encontra alguém que é muito mais
interessante, muito mais sedutor do que pai e mãe”, define.
Ele observa que o sumiço das duas
adolescentes pode está relacionado a isso.
No entanto, o especialista alerta que se o
jovem está fugindo de casa é porque pode existir um relacionamento conflituoso.
No caso das meninas, uma das mães reconheceu que essa já é terceira vez que ela
foge. “Não tem como culpar só as adolescentes ou só os pais ou os cuidadores
porque é um ciclo, tem um contexto. Não é uma ação isolada”, afirma.
A grande questão diz o especialista é saber
se os pais estão tendo tempo para conversar com os filhos. Acrescenta que hoje
existe a questão da troca de valores dentro de casa onde antes as mães tinham
um papel diferente e hoje precisam trabalhar para dar uma vida melhor para os
filhos.
“A ausência dos pais dentro de casa gera
problemas. Enquanto psicólogo tenho visto pais que que têm condição de ficar um
pouco mais tempo com os filhos, mas arrumam tantas coisas para os filhos
fazerem que nem sempre desejam estar perto dos filhos. Criar filhos requer
muita renuncia e nos dias de hoje temos caminhado para a questão da
individualização, o que é cada vez mais forte”, alerta.
Angústia
do desaparecimento
O psicólogo clínico Shouzo Abe constata que
quando os pais têm seus filhos desaparecido a primeira pergunta que se fazem é
“onde foi que eu errei?”. Sendo este um ato muito comum da autoculpa. Na
opinião dele, de fato, há uma relação.
“Não acredito que nenhum filho fuja de casa
onde a residência é 100% boa. Existem pais que estão confundindo quantidade com
qualidade, muitos pais dizem que estão passando um tempo com o filho, mas o pai
fica vendo a televisão e a criança no computador. Isso não é tempo com o filho,
isso é cada um no seu universo”.
Alerta sobre a importância de esse pai
estabelecer, de fato, um contato com a criança para conversar para saber o que
ela está passando, para entender a realidade, para beijá-la. “Ainda que seja
para dar uma bronca, o contato é uma necessidade e a ausência deste vem
prejudicando muito a relação e a qualidade de relacionamentos familiares”,
avalia.
DESAPARECIMENTO
A delegada adjunta da Delegacia de Proteção à
Criança e ao Adolescente (DPCA), Simelli Lemes de Santana revela que na maioria
dos casos em que pais registram o desaparecimento dos filhos estes voltam para
casa depois. Como no caso, onde os estudantes T. S. e B. G., que retornaram
para casa. “Normalmente, os boletins de ocorrência de desaparecimento são arquivados
quando do retorno do menor não chegando a virar procedimento criminal”,
esclarece.
De acordo com, a também delegada adjunta da
DPCA, Marcela Orçai agora que as garotas apareceram já foi dado baixa no
sistema o desaparecimento das mesmas. As mães ficaram de comparecer a delegacia
com as adolescentes para averiguação de possível prática de crime contra menor
e se tem maior envolvido. “Se tiver prática de crime será aberta uma
investigação caso não o caso será arquivado”, declara.
Idosos
também fogem
O psicólogo clínico Shouzo Abe afirma que os
idosos dificilmente fogem mesmo vivendo em péssimas condições. “É rara a fuga
de idosos, mas muitas vezes há casos em que o idoso se perde porque passa mal
no caminho, às vezes não sabe onde está, perde temporariamente a memória e
sofre algum acidente, ficando por vários dias internados. O desaparecimento
deles está muito ligado a estes tipos de situações”, destaca.
Ele interpreta que essa é uma realidade que
exige cuidados e atenção com o idoso. Até porque, diz Souzo, “o idoso, assim
como a criança, quanto mais velha mais dependente fica. Necessitando neste caso
de um cuidado afetivo”. No caso de pessoas com problemas psiquiátricos, ele
revela que o principal fator de desaparecimento está relacionado à falta de medicação,
que pode provocar surtos.
SURTOS
Ele relata o caso de paciente que quando
deixava de tomar a medicação, ele tinha surtos e chegava a ficar de dois a três
dias perdido na rua. “O período em que ele não tomava remédio ele tinha surtos
e saia para a rua e ficava perdido até alguém encontrá-lo ou ele recuperar um
pouco da memoria e voltar para casa”.
Ele adverte que essa é uma condição bem mais
complexa porque a pessoa com problema psiquiátrico pode até morrer em uma
situação como essa. “As pessoas com problemas psiquiátricos precisam de uma
atenção muito especial”, conclui.
Ainda
em busca
Inconsolada com o desaparecimento da filha há
mais de vinte dias, Simone Coutinho da Silva, 43 anos, não contou com a mesma
sorte das mães de T. e B.. Ela define a dor de não saber o paradeiro de Alexia
da Silva Cardoso, 20 anos, há mais de vinte dias desaparecida. “Sinto uma
tristeza profunda porque não sei onde minha filha estar e o que se passa com
ela. É muito triste ter um filho desaparecido, não sei se ela está viva ou
morta. Mas, tenho muita fé, em Deus, em encontrá-la com vida”.
CASO
Alexia foi morar em Macapá, capital do Estado
do Amapá, a convite de uma amiga conhecida por Clara com a promessa de emprego
na localidade.
Chegando à cidade a jovem acabou se envolvendo
com o filho de Clara que, de acordo com Simone, é usuário de drogas e agredia
Alexia. Insatisfeita com o relacionamento e com muito medo do parceiro
agressor, Alexia teria avisado a mãe que fugiria para Goiânia onde morava com a
mãe.
Mas a adolescente, que deveria ter chegado a
Capital goiana há mais de vinte dias, não ligou mais para a mãe. Nas muitas
tentativas de falar com a filha, por telefone, Simone conseguiu falar com Clara
que teria dito que Alexia não estava em casa permitindo que ela falasse com a
neta de cinco anos que teria dito que a mãe estava trancada em um quarto.
Com base na declaração da neta e total falta
de contato com a filha Simone acreditar que Alexia está sendo mantida em
cárcere privado pela sogra, Clara e o filho, conhecido por Didi.
*Do Jornal Diário da Manhã.