Beltrame espera que números sejam
esclarecidos no Estado.
São mais de 40 mil desaparecimentos
registrados desde 2007, diz ISP.
Com a presença de mães de desaparecidos no
estado do Rio nos últimos 14 anos, a Polícia Civil inaugurou a Delegacia de
Paradeiros de Desaparecidos na manhã desta segunda-feira (22). Ao contrário do
que acontecia até então, quando os casos só eram encaminhados para a sessão de
desaparecidos da Divisão de Homicídios após 15 dias, o registro de
desaparecimento será encaminhando diretamente para a Delegacia de
Desaparecidos.
O secretário de Segurança do Rio, José
Mariano Beltrame, afirmou que vários casos de desaparecimento continuam
registrados apesar de as vítimas reaparecerem. Segundo dados do Instituto de
Segurança Pública (ISP), foram registrados 41.711 desaparecimentos no estado do
Rio entre 2007 e 2014.
"Aproveito que se você tem algum
desaparecido na sua residência que tenha voltado para que deem baixa no
registro. E aí vamos tratar dos casos de desaparecidos de fato, dessas famílias
que passam verdadeiras peregrinações. A procura por esses desaparecidos será
facilitada", avaliou Beltrame.
Ainda de acordo com o secretário, a delegacia
– onde trabalharão 35 policiais –
terá um banco de material genético dos
familiares de desaparecidos para a realização de exames de DNA em ossadas
recolhidas em cemitérios clandestinos. Beltrame frisou que haverá verba para
isso. "Se não conseguirmos fazer com nossos próprios recursos, vamos
procurar parcerias para realizar", disse.
A delegada responsável, Elen Souto, espera
resolver mais de 65% dos casos, número de quando comandava a sessão de
paradeiros da Divisão de Homicídios da capital. A delegacia contará com a
assistência da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos. "Teremos
um núcleo para crianças e adolescentes e outro para adultos. A delegacia
funcionará 24 horas por dia, e não mais precisará de 15 dias na delegacia
distrital. O caso será levado imediatamente para cá", explicou Elen.
Sobre os números de desaparecimentos, ela diz
que serão realizadas campanhas de conscientização. "Isso é importante para
que venhamos a ter números verdadeiros, e para que os gastos e esforços sejam
empreendidos para os casos em que realmente haja um desaparecimento",
finalizou a delegada.
Mães se
emocionam
Antes da inauguração, um grupo de 11 mães de
desaparecidos fez um discurso em frente à sede da Delegacia, na Cidade da
Polícia.
"Esta é uma porta da esperança que se
abre. O legado da Priscilla (Belfort) é essa delegacia", disse Jovita, mãe
da jovem desaparecida em 2004. O caso teve enorme repercussão na época.
"Eu fiquei muito emocionada com tudo que eu vi aí dentro, e uma delegacia
de excelência. Essa é a primeira vez que o Estado nos ouve", disse ela,
emocionada.
A mãe da engenheira Patrícia Amieiro,
desaparecida em 2008 na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, Tânia Amieiro,
clamou que a delegacia. "Quero confiar que a delegacia faça alguma coisa.
Nós merecemos isso, estamos esperando há muito por isso", afirmou Tânia.
"Há 15 anos, as mães do Brasil lutam
pela criação dessa delegacia. É necessária a criação de uma delegacia
especializada, já que é um trabalho totalmente diferente do normal", diz
Waltea Ferrão, presidente do Portal Kids, que investiga casos de crianças
desaparecidas.
"Que esses exames de DNA sejam feitos
com a maior delicadeza. O nosso sofrimento é menor do que o das nossas
crianças", disse Elisabete Barros, mãe de Thaís de Lima Barros, que teve
sua história contada pelo G1 neste domingo (21).
Entre 2007 e 2014, houve 41.711 casos de
desaparecimento no Rio registrados em delegacia, segundo dados do Instituto de
Segurança Pública. "O Rio de Janeiro está coalhado de cemitérios
clandestinos, então essa delegacia terá muito trabalho", disse Antonio
Carlos Costa, presidente da Instituição Rio de Paz.