A demanda do intercâmbio entre as corporações
mineira e fluminense é resultado da mobilização da sociedade civil carioca,
liderada por Jovita Nocchi, mãe de Priscila Vieira Belfort - jovem desaparecida
desde 2004
Representantes da Polícia Civil do Rio de
Janeiro vão debater, nesta segunda-feira, com integrantes da corporação de Minas
Gerais o modelo de investigação nos casos de pessoas desaparecidas. Cristina
Coelli, titular da Delegacia Especializada em Localização de Pessoas
Desaparecidas de Belo Horizonte viajou nesta manhã ao estado vizinho, onde vai
se encontrar com a chefe Polícia Civil do Rio, Martha Rocha, para mostrar o
modelo mineiro de trabalho, que virou referência nacional. A demanda para o
encontro é resultado da mobilização da sociedade civil fluminense, liderada por
Jovita Nocchi, mãe de Priscila Vieira Belfort - jovem desaparecida desde 2004.
De acordo com Coelli, no Rio de Janeiro não
há uma delegacia especializada em pessoas desaparecidas, apenas um serviço
instalado no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). No
entanto, a polícia fluminense está interessada em aprimorar os trabalhos. A
delegada de BH já esteve na Assembléia Legislativa do Rio no ano passado, onde
palestrou sobre as experiências de sucesso realizadas em Minas Gerais.
Policiais do Rio também estiveram em Minas para conhecer os trabalhos e visitar
as instalações da delegacia especializada.
Em BH, os casos de desaparecimento são
tratados por uma divisão, com duas delegacias especializadas – uma de
localização de pessoas desaparecidas e outra específica de busca a crianças e
adolescentes. De acordo com Cristina Coelli, a estrutura mineira também é fruto
de mobilização social, como acontece agora no Rio. “A Divisão foi reestruturada
na época em que ocorreu uma série de desaparecimentos de mulheres, entre 1999 e
2000. Ao todo, 43 mulheres sumiram e ainda há seis desaparecidas. Outro evento
que ajudou a dar visibilidade à delegacia foi o desaparecimento em série de
meninos em 2006. Em junho daquele ano, foi criado o cadastro estadual que
ajudou nos trabalhos”, conta Coelli.
A delegada disse que há 13 anos divulga os
trabalhos realizados em Minas para todo o Brasil, com a intenção de firmar
parcerias. O Estado hoje tem um sistema de confronto de informações em tempo
real sobre pessoas desaparecidas com o cadastro estadual. “O Rio gostou desse
sistema e vamos levar o conhecimento para que a Martha Rocha possa avaliar a
implantação. Eu também vou conhecer o modelo do Rio”, afirma Coelli. Ela cumpre
agenda ao lado chefe da polícia fluminense pela manhã e depois elas almoçam
juntas. À tarde, Coelli deve se encontrar com as famílias mobilizadas pela
criação da delegacia.
Mais intercâmbio
A delegada destaca a importância na troca de
conhecimento entre cidades e estados para tratar o caso de desaparecidos. “A
proposta é a gente fortalecer o sudeste, abrir os braços para outras regiões. O
desaparecimento de uma pessoa não é pontual. O desaparecimento vai com grande
facilidade para outras localidades, por isso precisamos constantemente
trabalhar de forma intergrada”. Segundo Coelli, o modelo “em rede” de Minas
atende a demandas que podem surgir durante a Copa de 2014 no Brasil. De acordo
com ela, o encontro de hoje não é para tratar de segurança no Mundial, mas
poderá ajudar em ações que precisam ser aprimoradas para o evento.
Mobilização
Familiares de desaparecidos, junto com as
ONGs Meu Rio e Rio da Paz, montaram um abaixo-assinado pela internet pedindo a
criação de uma delegacia na cidade para tratar desses casos específicos.
“Pegamos mais de 15 mil assinaturas e tivemos dois encontros com a Martha
Rocha, porque a gente quer uma delegacia no Rio nos moldes de Belo Horizonte,
que é um sucesso e tem resultado”, afirma Jovita Nocchi. Ela espera que a
campanha ajude outras famílias de desaparecidos a ter esperança. “O caso da
Priscila teve várias denúncias, várias linhas de investigação, mas nenhuma
chegou ao final”. Esse é mais um dos motivos para a mãe se unir a outras
pessoas pela causa. “O caso de desaparecidos é muito específico, porque não é
um crime. Se não tiver uma delegacia para investigar e apoiar os familiares,
fica difícil”.